quarta-feira, 24 de junho de 2009

Da Saudade e outras Índoles

blackrose

Saudade...

Sentimento estranho este.... Definido assim pelo dicionário ‘Michaelis-UOL’:

saudade

s. f. 1. Recordação nostálgica e suave de pessoas ou coisas distantes, ou de coisas passadas.

2. Nostalgia.

Ou ainda pleo dicionário ‘Aurélio’:

saudade
[Do lat. solitate, ‘soledade’, ‘solidão’, pelo arc. soydade, suydade, poss. com infl. de saúde.]
Substantivo feminino.
1.Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia:
Saudade! és a ressonância / De uma cantiga sentida, / Que, embalando a nossa infância, / Nos segue por toda a vida!” (Da Costa e Silva, Pandora, p. 83); “E uma saudade de casa começou a me agoniar.” (José Lins do Rego, Doidinho, p. 171).
2.Pesar pela ausência de alguém que nos é querido.
3.Bot. Designação comum a diversas plantas da família das dipsacáceas, principalmente da espécie Scabiosa maritima, e às suas flores; escabiosa, suspiro:
“E ela deu-lhe do seio uma saudade / Murcha, e no entanto bela” (Gonçalves Dias, Obras Poéticas, II, p. 98).
4.Bot. Planta da família das asclepiadáceas (Asclepias umbellata).
5.Bras. Zool. V. assobiador (4).
6.Bras. Cantiga da terra, entoada pelos marujos no alto-mar. ~ V. saudades.
Rebenqueado das saudades. 1. Bras. RS Que curte a dor das saudades, da separação.

Mas, sabemos nós - os que a sentem - que saudade escapa à definições; e toda e qualquer tentativa de fazê-lo lhe é uma pintura opaca, pálida.

Saudade é um misto de angústia com nostalgia e contentamento... A certeza de ser feliz bastando para isso que saibamos a causa de nossa saudade estar feliz...

Acredito que a melhor definição de saudade segue-se nas linhas abaixo, onde transcrevo dois sonetos:

Soneto de FidelidadeVinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Amor é fogo que arde sem se ver (Luís de Camões)

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões (1524-1580)

Mas mesmo estas “retratações” não dão cabo do que vem a ser realmente a saudade e de todas as implicações que sentir isto representam para quem a sente…

Mesmo assim nada há de mais doce que a saudade sanada, nenhum orgasmo é mais inebriante que reencontrar aquele(a) que lhe faz suspirar saudades pelos cantos… ou mesmo sonhar acordado!

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